Categoria: Artigos
02/08/2023 Por: Assessoria de Comunicação
Nesta terça-feira, 1º de agosto, o presidente da república, Luís Inácio Lula da Silva, sancionou o Projeto de Lei nº 14.641 que declara como "manifestação da cultura nacional a tradição do uso, em romarias religiosas, dos caminhões conhecidos como 'Pau de Arara'".
Padre Cícero José, reitor da Basílica Santuário Nossa Senhora das Dores, Frei Fernandes Garcia, pároco da Paróquia São Francisco das Chagas, Padre Laércio José, sacerdote da Ordem Salesiana, e o professor José Carlos dos Santos estiveram presentes como representantes da Comissão para as Romarias em Juazeiro do Norte. Além deles, o Padre Patriky Samuel, subsecretário adjunto geral da CNBB, e a Irmã Arlene dos Santos, vigária da Congregação de Nossa Senhora - Cônegas de Santo Agostinho, no Brasil, também participaram do evento.
Entre as autoridades constituídas estiveram o Prefeito Municipal, Glêdson Bezerra, o Deputado Federal, Yury do Paredão, o Deputado Estadual, Fernando Santana, e o ex-prefeito de Juazeiro do Norte, Arnon Bezerra. É importante destacar que a lei não é uma liberação, mas sim uma forma de reconhecer a contribuição daqueles que, viajando nas carrocerias dos caminhões, são parte do desenvolvimento dos importantes centros de romaria do país, especialmente no Nordeste.
Em nome da Diocese de Crato, o Padre Cícero José deixou uma mensagem aos romeiros, protagonistas da missão, assumida pela Igreja Particular que tem característica romeira e missionária.
Ei-la na íntegra:
Em nome do Excelentíssimo e Reverendíssimo Dom Magnus Henrique Lopes, OFMCap, bispo da Diocese de Crato, Ceará, e dos representantes da Comissão para as Romarias em Juazeiro do Norte, formada pela Paróquia Nossa Senhora das Dores, Basílica Santuário, Paróquia São Francisco das Chagas, Paróquia Sagrado Coração de Jesus e Colina do Horto do Padre Cícero, cumprimento as autoridades constituídas, as autoridades eclesiásticas e a todos os senhores e senhoras aqui presentes.
Juazeiro do Norte é um município localizado ao Sul do estado do Ceará, que cresceu alicerçado nos pilares da oração e do trabalho, preceitos ensinados e incentivados pelo Servo de Deus Padre Cícero Romão Batista, cuja atuação apostólica fundamenta a história da cidade e está diretamente ligada à expansão das romarias que já acontecem de forma recorrente há 134 anos.
No prefácio do livro: “Uma fé sobre rodas, ensaio sobre caminhão Pau de arara, Romarias e Juazeiro do Norte”, escrito pelo jovem advogado Mauro Nunes Cordeiro Filho, o cientista social, antropólogo e romeiro, Fagner Andrade, recorda que foi exatamente “no contexto popular da religiosidade e da cultura que ferramentas cotidianas se inseriram de maneira muito clara, sem timidez, reconfigurando espaços e fazendo de uma desconfortável viagem de horas de estrada no caminhão, uma travessia para o deleite da ‘terra prometida’”.
Das muitas histórias que os irmãos romeiros partilham conosco, aqui cabe destacar um relato marcante, de uma profundidade explicativa que só pode ser descrita por aqueles que trazem no âmago do ser a experiência de fazer das alegrias e percalços da estrada mais um degrau para alcançar o céu, quando estiverem diante da romaria definitiva. Assim disse um romeiro pernambucano: “Fazemos questão de enfeitar para a viagem o transporte que utilizamos, pois fazemos dele uma extensão dos santuários que visitamos em Juazeiro do Norte. A boleia é o altar; por isso nela colocamos os andores, e todo o corpo do transporte é a nave do templo, formado por cada um de nós, Igreja viva e atuante, que tem o privilégio de ser reconhecida pela condição de filhos e filhas de Deus, da Mãe das Dores e afilhados do Padrinho Cícero.
No momento presente, em que, junto a outros importantes centros de Romaria do Nordeste brasileiro, participamos da sanção presidencial da proposta que declara manifestação da cultura nacional a tradição do uso, em romarias religiosas, do transporte “Pau de Arara”, trazemos na memória a coragem dos primeiros peregrinos que iam a Juazeiro do Norte nas carrocerias adaptadas dos caminhões e, através da experiência de fé, contribuíram para a construção da identidade religiosa e cultural da cidade, além do desenvolvimento econômico.
Enquanto Igreja, também manifestamos, sobretudo, a nossa gratidão aos milhões de romeiros que, no hoje da história, continuam, ano após ano, resolutos, conscientes e transbordando a fé que os motiva a enfrentar os longos caminhos “cheios de pedra e areia” para encontrar na cidade aquilo que o Padre Cícero Romão desde antes previa: “O centro de devoção que tem sido o refúgio para os náufragos e para a gente de toda parte que, modestamente, vem abrigar-se debaixo da proteção da Santíssima Virgem” com o objetivo de agradecer as bênçãos e pedir forças para enfrentar com perseverança as labutas diárias.
Para concluir, enfatizamos, mais uma vez, a importância desse reconhecimento em forma de Lei. Que ela também possa servir para lembrarmos-nos da necessidade constante de valorização do povo simples que ajuda na edificação e na propagação do Reino de Deus em solo nordestino e também as suas ferramentas de locomoção, que são construtoras da história e da memória das romarias.
Agradecemos às autoridades constituídas que contribuíram para que o projeto fosse levado adiante, mas também a todos aqueles que, mesmo já tendo partido para a eternidade, a exemplo da irmã Annette Dumoulin, são presença no nosso pensamento sempre que refletimos sobre a simbologia romeira.
Aos romeiros, o nosso abraço fraterno e admiração. Com eles, selamos o compromisso de sempre reconhecer a misericórdia de Deus agindo nas raízes da história, a fim de assegurar a beleza das folhas, a qualidade dos frutos e a continuação do discipulado e da missão em terras juazeirenses, para que continuemos a ver florescer o que canta o artista Targino Gondim: “De pé no chão, de caminhão lá vai a fé, caminhando crente, sempre pra frente, atrás da salvação.”
Obrigado!
Padre Cícero José da Silva
Reitor da Basílica Santuário Nossa Senhora das Dores
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