Categoria: Artigos
18/04/2025 Por: Pe. Cícero José da Silva
Na escuridão da noite, no Horto das Oliveiras, começou o caminho da Paixão. Ali, sozinho e em agonia, Jesus assumiu o peso de toda a humanidade. Suou sangue, orou intensamente, sentiu o abandono dos amigos. Naquele jardim, o Salvador já começava a morrer por nós.
Preso como um criminoso, Ele foi levado de tribunal em tribunal, caluniado, escarnecido, espancado. O Justo, o Santo, o Inocente foi tratado como indigno e, silencioso, suportou as humilhações. Não porque era fraco, mas porque amava.
A cruz, instrumento de dor e vergonha, foi colocada sobre os Seus ombros já feridos. Cada passo rumo ao Calvário foi marcado por quedas e olhares distintos: uns de compaixão e outros de zombaria. Maria, Sua Mãe, o acompanhava em silêncio. Ali estava a Mulher que gerou o Filho de Deus, agora vendo-O ser levado como cordeiro ao matadouro.
No alto da cruz, suspenso entre o céu e a terra, Jesus carregou nossas dores, nossas culpas, nossas cruzes. Cada cravo, cada espinho, cada gota de sangue era a expressão concreta de um amor sem medida. Ele, que podia descer da Cruz, permaneceu; isso porque decidiu amar até o fim.
"Eloí, Eloí, lamá sabactâni?" — "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?" — grito de dor, sim, mas também oração e entrega total ao Pai. E então, com o último suspiro do Salvador, o céu se rasga, o véu do templo se parte, e a terra treme. A Morte é vencida por Aquele que por ela passou.
A Cruz, que era sinal de derrota, tornou-se trono de glória. A Morte, que parecia o fim, tornou-se o início da Vida. A Paixão de Cristo não é apenas um evento do passado — é mistério presente, é amor que continua a pulsar em cada Eucaristia, em cada gesto de misericórdia, em cada sim ao amor de Deus. Este não é apenas um momento triste da vida de Jesus. Não é só uma história de sofrimento que ouvimos todos os anos na Semana Santa. É muito mais que isso! É o momento em que o amor de Deus por nós se fez entrega total.
A Cruz é o lugar onde o céu tocou a terra, onde Deus mostrou, de forma concreta, até onde vai Seu amor. Jesus morreu por amor e não foi por um amor qualquer. Foi um amor real, pessoal, radical. Ele morreu por nós. Por mim, por você, por nossas famílias. Por todas as pessoas — até aquelas que ainda não O conhecem. E Ele fez isso livremente, ninguém O obrigou, Ele escolheu se entregar para nos libertar do pecado, para nos abrir as portas do céu. Mas será que nós entendemos mesmo isso? Será que a gente tem consciência do que significa a Cruz de Jesus em nossas vidas?
O Evangelho nos apresenta uma cena que precisa mexer com a gente: A multidão que poucos dias antes tinha acolhido Jesus com festa, com ramos e alegria, gritando: “Hosana ao Filho de Davi!”, foi a mesma que, diante de Pilatos, gritou: “Crucifica-o! Crucifica-o!” Que mudança, não é? E aqui está a pergunta que não pode faltar: E nós? Onde estamos nessa multidão?
Não existe cristianismo sem Cruz. Não existe seguimento de Jesus sem entrega, sem sacrifício, sem amor doado. A Cruz, aos olhos do mundo, é sinal de fracasso. Mas, para nós cristãos, ela é sinal de vitória.
Na Cruz, Jesus transformou a maior injustiça no maior ato de amor. Na Cruz, Ele assumiu as nossas dores, os nossos pecados, as nossas fraquezas — e nos deu a esperança de uma vida nova. Por isso, meus irmãos, não podemos viver como se a Cruz fosse apenas um símbolo bonito para pendurar na parede ou no pescoço. Ela precisa ser vivida. Quantas vezes beijamos a Cruz nas nossas celebrações, mas não beijamos a Cruz da vida — os desafios da convivência, o perdão difícil, o cuidado com quem sofre, o amor sem interesse?
É aí que a Cruz de Cristo se faz presente. Na paciência de uma mãe, no trabalho silencioso de um pai, no esforço de um catequista que evangeliza com alegria. No abraço de um jovem que prefere fazer o bem ao invés de seguir a moda do mundo. Na fidelidade de quem serve à comunidade mesmo sem reconhecimento. Na humildade de quem ama, perdoa, escuta e acolhe. A cruz é nossa escola de amor.
Mas, atenção: não basta só rezar sobre isso. Não basta só meditar sobre a Paixão de Cristo uma vez por ano. É preciso deixar que essa entrega de Jesus transforme o nosso modo de viver. Jesus nos ensina que amar é se doar. É carregar o outro quando ele não tem forças. É perdoar quem nos ofendeu. É ajudar sem esperar aplauso. É permanecer mesmo quando não entendemos tudo. Por isso, deixemos que esse amor crucificado entre na nossa vida. Deixemos que ele transforme nosso coração, nossa casa, nossa comunidade, porque só quem ama com esse amor da cruz, experimenta a verdadeira alegria da Páscoa. Não tenhamos medo da Cruz, meus irmãos. Quem rejeita a Cruz, não experimenta a Ressurreição. Mas quem abraça a Cruz com Jesus, descobre que nela está a força que nos levanta, nos sustenta, nos salva. Hoje, mais do que nunca, o mundo precisa ver cristãos que vivem a Cruz, e não só que a contemplam. Pessoas que amam até o fim. Famílias que permanecem unidas, mesmo nas dificuldades. Comunidades que cuidam umas das outras. Jovens que escolhem seguir Jesus de verdade.
Que a nossa resposta hoje não seja um grito de “Crucifica-o”, mas um coração cheio de gratidão, dizendo: “Senhor, eu Te sigo. Eu Te amo. Eu carrego minha cruz contigo.” E que possamos repetir com fé, como diz a Igreja: “Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos, porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo!”
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
Inscreva-se em nossa lista de e´mails para receber notificações de notícias, eventos e outras informações da Basílica Santuário Nossa Senhora das Dores.