A Eucaristia nos faz peregrinos da Esperança

A Eucaristia nos faz peregrinos da Esperança

Categoria: Artigos

19/06/2025 Por: Pe. Cícero José da Silva

Pe. Cícero José da Silva

Pe. Cícero José da Silva

Reitor da Basílica Santuário Nossa Senhora das Dores


SOLENIDADE DO SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DE CRISTO

19 DE JUNHO DE 2025

A EUCARISTIA NOS FAZ PEREGRINOS DE ESPERANÇA

“Hoje a Igreja te convida ao Pão vivo que dá vida; vem com ela celebrar!”

(da Sequência de Corpus Christi)

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje celebramos, em comunhão com toda a Igreja, a Solenidade de Corpus Christi, essa palavra que vem do Latim, mas que significa exatamente o Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, mistério da presença viva de Jesus entre nós, no Sacramento da Eucaristia.

É com grande alegria que acolho a todos os paroquianos, os romeiros e também aqueles que nos acompanham pela transmissão da TV Mãe das Dores. Sejam todos bem-vindos!

A solenidade de Corpus Christi começa na Bélgica, em Liège, por volta do século 12. É a mesma cidade onde nasceu a nossa saudosa Irmã Annette Dumoulin. Conta-se que por lá vivia uma mulher muito piedosa, chamada Juliana. Desde nova, ela amava muito a Eucaristia. E, assim como o Servo de Deus Padre Cícero Romão, Juliana teve um sonho: ela via uma lua cheia com uma mancha escura. E entendeu que aquela mancha era um sinal de que faltava uma festa para celebrar a Eucaristia. Ela guardou isso por anos, até contar ao bispo da cidade. O bispo acreditou nela e criou uma festa especial, que se espalhou por outras cidades.

O Milagre Eucarístico de Bolsena, na Itália, em 1263, também deixou todos impressionados e foi o impulso para que a festa se tornasse universal. Um padre estava celebrando a missa, mas tinha dúvidas se Jesus estava mesmo presente na hóstia. Então, durante a missa, a hóstia começou a sangrar.

O Papa da época, chamado Urbano quarto, ficou tão tocado por esse acontecimento e pelas visões de Juliana que, no ano seguinte, em 1264, mandou que essa festa fosse feita por toda a Igreja. E pediu ajuda a um grande santo, Tomás de Aquino, para escrever os cantos e orações da celebração. É dele, por exemplo, a letra da Sequência que ouvimos há pouco, antes do Evangelho.

Mais tarde, outros Papas reforçaram essa decisão, e a Igreja passou a fazer procissões, como a que faremos logo mais. Desde então, a festa de Corpus Christi acontece todos os anos, para lembrar que, em nossa fé católica, Jesus está realmente presente na hóstia consagrada.

E especialmente neste Ano Santo Jubilar, somos convidados a olhar para o Sacramento da Eucaristia com um coração renovado. Nestes tempos em que vivemos, com os jornais mostrando tantas tragédias, guerras e violências, a Eucaristia continua a se revelar para nós como o pão que nos sustenta na caminhada. Ela nos fortalece, nos move, nos anima e nos faz peregrinos de esperança.

Há uma música, bastante conhecida e cantada em nossas Comunidades Eclesiais de Base, que provoca a nossa consciência. Ela diz: “Comungar é tornar-se um perigo”. Como assim, Padre?

Esse trecho da música nos lembra que comungar não é apenas cumprir o costume de ir à missa aos domingos ou nas celebrações como a de hoje. Comungar o Corpo e Sangue de Cristo é assumir um compromisso sério com o Evangelho. É dizer “sim” aos valores de Jesus, valores esses que nem sempre coincidem com os valores do mundo, marcado por ganância, competição, ostentação de riqueza e indiferença ao sofrimento do próximo.

Quando nos unimos a Jesus na Eucaristia, nós nos unimos também àqueles com quem Ele se identificou: os pobres, os humilhados, os excluídos. E isso significa mais do que sentir pena ou fazer uma boa ação de vez em quando. Significa assumir uma causa, rezar, agir e nos comprometer com as mudanças de que o mundo precisa.

E aí onde está o "perigo" de que fala a música. Porque, para quem lucra com a exploração, para quem se beneficia da desigualdade, um cristão que comunga e realmente vive o que comunga é uma ameaça. Ou seja, ele age, ele não fica calado diante da injustiça, ele faz da própria vida um testemunho. Foi isso que também nos ensinou o Servo de Deus Padre Cícero Romão Batista: a fé que não se traduz em ação concreta, em amor ao próximo, é uma fé incompleta.

A verdadeira comunhão, meus irmãos e irmãs, não permite neutralidade. Ela nos convoca a ser agentes de transformação, testemunhas do Reino de Deus aqui e agora.

A Eucaristia é mais do que um sinal do amor de Deus. Ela é o próprio Amor de Deus, que se dá por inteiro a nós. É o Sacramento da partilha, da caridade, da gratidão. E no Evangelho de hoje, ouvimos Jesus dizer aos discípulos: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Jesus não manda ninguém embora. Ao contrário, ensina a cuidar, a repartir, a confiar.

Essa doação nos tira do nosso egoísmo, nos liberta e nos faz verdadeiros filhos e filhas de Deus. O Evangelho deste dia nos mostra também Jesus que "acolheu as multidões, falava-lhes sobre o Reino de Deus e curava todos os que precisavam" (Lc 9, 11b). É essa a atitude que somos chamados a ter, esse é o modelo que devemos seguir.

Assim, meus irmãos e irmãs, receber a Eucaristia é um compromisso de amor e serviço. Sim, devemos adorar o Senhor no Sacrário, na hóstia consagrada, onde Ele está realmente presente. Mas essa adoração não pode ser vazia se desprezamos o Cristo que sofre nos nossos irmãos. E aqui não me refiro apenas ao irmão que passa necessidade, mas àquelas pessoas que nos procuram em busca de um conselho, de uma escuta amiga ou apenas de um gesto de acolhida. E quando formos nós a passar pelas dores — seja no trabalho, na família, na saúde ou na alma — que possamos oferecer tudo a Deus, unindo nosso sofrimento ao de Cristo.

Que neste Corpus Christi, o Corpo e Sangue de Jesus nos fortaleçam para mais do que caminhar: que nos fortaleçam para sermos, de fato, peregrinos de esperança. Com Deus no comando de tudo, juntos somos sempre mais fortes!

Amém.

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