A SANTA DAS DORES E DO JOASEIRO

Por Renato Casimiro

Para nós, o marco fundante de nossa religião no velho tabuleiro do Joazeiro é a capelinha que se iniciou a construção em 15.09.1827. Bem documentado, não há dúvida. Assunção Gonçalves revelou em traços modestos e grande simplicidade a imagem do templo, algo como um oratório privado, não muito maior para o que seria suficiente por aqueles tempos, entre fazenda e povoação. Em anos subsequentes, venerandos capelães anotariam reclamações para obras complementares e restauração de instalações. Somente depois de 1872, com a chegada do Pe. Cícero – sexto capelão, à época, houve a iniciativa para uma obra vultosa, de nova capela. Notícias nos dizem na história que em 15.09.1875, nas proximidades da velha capelinha do Pe. Pedro Ribeiro da Silva, deu-se início a empreitada. Dificuldades várias arrastaram a sua construção por muitos meses. Aqui e acolá, em correspondência do Pe. Cícero com outros padres se sabe das dificuldades. De uma destas, ficamos sabendo que em 20.03.1877 as obras foram paralisadas, pois o fantasma da seca rondava pelo Cariri, com doenças e fome que se aliviavam com macambira, mucunã e macaubeira. Passado o dia de São José, de fato, a seca estava declarada no Ceará. A seca se estendeu por além de 1879, e no Estado morreram mais de 500 mil, e mais de 120 mil foram para a Amazônia. Superada a seca, os anos 80 animaram o povo de Deus a continuar a grande obra da igreja do Joazeiro. Com a igreja pronta e decorada, e por ocasião da Visita Pastoral que o Bispo da Diocese do Ceará, D. Joaquim José Vieira fazia ao Cariri, o Pe. Cicero animou-se em convidá-lo para solenemente celebrar a bênção da Capela de Nossa Senhora das Dores. Naquela ocasião, a imagem da padroeira era a estatua original, a mesma que estava entronizada no altar da capelinha primitiva, e que ainda hoje existe na proteção da Basílica. Mas era intenção do Pe. Cícero completar o altar-mor com uma nova estátua, inclusive de maiores dimensões, mais compatível com a grandeza da nova capela. Mas não foi possível nesta ocasião. Efetivamente, não foi este fato algo frustrante, até mesmo na expectativa do Pe. Cícero, uma vez que todos reconheciam o grande esforço e o amplo resultado que se conseguira para a construção da capela. É sabido, por exemplo, que o próprio bispo deixou uma impressão fortíssima sobre a grandeza daquele marco da fé do povo do Cariri, nos termos em que assinou no livro de Tombo, em 23.08.1884: “A capela de Juazeiro, começada em 1875 pelo Pe. Cícero Romão Batista, sacerdote inteligente, modesto e virtuoso, é um monumento que atesta eloquentemente o poder a Fé e da Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana, pois é admirável que um sacerdote pobre tenha podido construir um templo vasto e arquitetônico em tempos anormais quais aqueles que atravessa esta Diocese, assolada pela seca, fome e peste.” Em anos subsequentes a ação pastoral do Pe. Cícero mais se dinamizou e engrandeceu a obra. Em 19.07.1885 ele fundou as Conferências Vicentinas; em 22.04.1886 realizou a solene instalação do sacrário permanente na Capela; e, finalmente, em 18.09.1887, tendo preservado a fisionomia da decoração do altar-mor, como era na capela original, do tempo do Pe. Pedro Ribeiro, fez a entronização e deu a solene bênção à nova imagem da padroeira – Nossa Senhora das Dores. Consta que, através da mediação de um amigo do Pe. Cícero, o médico Marcos Rodrigues Madeira, que ela foi adquirida na França, mede um metro e 65 centímetros de altura, feita em gesso, e é de uma perfeição surpreendente. Todos são unânimes em afirmar que seu olhar é tão expressivo que isto inspira cada vez mais a devoção por tantos quanto a contemplam. Na reforma empreendida no vicariato de Mons. Joviniano Barreto, o artista italiano Agostinho Balmes Odísio inspirou-se nesta imagem da padroeira para também realizar uma grande estátua, de três metros de altura, que encima a torre da Basílica, à frente de uma cruz de cimento de 5 metros, e que representou uma expiação do povo de Juazeiro do Norte, pela invasão de força policial na igreja, e que resultou em diversas mortes, à porta da Matriz, naquele final dos anos 30.